Ford deixa de lançar 5 carros que poderiam ter salvado as fábricas no Brasil

Nesta semana, o anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil (e o consequente fim de linha dos carros nacionais da marca) completa 1 mês. A multinacional encerrou a produção de veículos em Camaçari (BA) e em Taubaté (SP). Em 2019, a unidade industrial de São Bernardo do Campo (SP) já havia sido desativada. Já a Troller, em Horizonte (CE), segue ativa só até o fim de 2021.

Segundo a empresa, essa decisão, que causou a perda de aproximadamente 5.000 empregos diretos, decorre de prejuízos financeiros acumulados no país nos últimos anos. De agora em diante, a Ford seguirá no mercado comercializando carros importados. Porém, talvez a situação atual fosse diferente se, no passado, a fabricante tivesse lançado produtos mais atrativos.

Veja 5 carros que poderiam ter salvado a Ford no Brasil

A própria empresa cogitou lançar quase todos eles, em diferentes momentos, mas acabou abortando os projetos por motivos diversos. Confira o listão e conheça a história desses modelos!

1. Picape Ford EcoSport

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Picape poderia ter dado fôlego à linha EcoSport e à fábrica de Camaçari (projeção: Jonathan Machado | Reprodução)

Os segmentos de picapes e de SUVs são os que mais crescem no país atualmente. Até pouco tempo atrás, porém, quem queria uma caminhonete tinha apenas duas opções: as compactas e as grandes. Foi só com o lançamento da Renault Oroch, em 2015 e da Fiat Toro, em 2016, que surgiram modelos intermediários. O caso é que a Ford poderia ter entrado nesse nicho uma década antes das concorrentes.

Em 2003, a fabricante foi pioneira em produzir no Brasil um SUV compacto: o EcoSport, que teve grande aceitação no mercado. Embalada pelo sucesso, a filial brasileira quis desenvolver uma picape baseada no modelo, para substituir a Courier.

O projeto da picape EcoSport foi até iniciado, mas acabou congelado por ordem da matriz, nos Estados Unidos. Motivo: a Ford só desenvolveria carros globais, e não mais produtos específicos para determinados mercados.

Nem mesmo a criação, no Brasil, da segunda geração do SUV, lançada em 2012, fez a matriz autorizar o projeto da caminhonete. E, assim, a Ford deixou de inaugurar um dos segmentos mais lucrativos e promissores do setor automotivo.

2. Ford Kuga

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Vendido no exterior desde 2008, Kuga compartilha a plataforma com o Focus (foto: Ford | Divulgação)

Outra chance desperdiçada pela Ford foi a de ser pioneira na categoria dos SUVs médios. Atualmente dominada pelo Jeep Compass, essa porção do mercado em breve será povoada pelo Corolla Cross e pelo Volkswagen Taos. Contudo, a marca do emblema oval tem há anos um produto desse tipo no exterior, nunca lançado por aqui.

É o Kuga, baseado no Ford Focus: esses carros compartilham plataforma, mecânica e suspensões. Assim, poderia facilmente dividir a linha de montagem de General Pacheco, na Argentina, com os “irmãos”.

Vale lembrar que, embora importados, veículos produzidos em países do Mercosul têm tributação semelhante aos nacionais. Desse modo, o Kuga poderia ter dominado um segmento ainda pouco disputado e trazido bons lucros para a filial brasileira.

Consta que a multinacional teria analisado essa possibilidade, mas nunca a colocou minimamente em prática. A Ford insistiu apenas no hatch e no sedã, segmentos que estão em declínio justamente devido à ascensão dos SUVs. A gama Focus acabou saindo de linha em 2019. No ano seguinte, a empresa enfim entrou no segmento com o Territory, cujas vendas até agora não decolaram.

3. Hatch baseado do Gol

Entre 1987 e 1996, a Ford formou, junto com a Volkswagen, a Auto Latina. A união entre as duas empresas tinha o objetivo de compartilhar tecnologias e processos de fabricação para poupar custos. E justamente um dos projetos mais capazes de beneficiar a marca do emblema oval acabou nunca sendo concluído.

Era um compacto baseado na segunda geração Gol (aquela que ficou popularmente conhecida como “Bolinha”). O hatch da Volkswagen ainda estava em desenvolvimento quando a engenharia da Ford começou a criar sua própria variação do projeto. O veículo nem chegou a ganhar nome, mas foram feitos até alguns estudos em tamanho natural.

Nesse caso, a responsável pelo arquivamento do projeto nem foi a Ford, e sim a Volkswagen. É que o Gol era, na época, o automóvel mais vendido do país: a fabricante de origem alemã simplesmente não quis compartilhar sua “galinha dos ovos de ouro” com a sócia estadunidense.

Há quem diga que o veto da Volkswagen ao projeto teria sido a gota d’água que faltava para a dissolução da Auto Latina. Por sua vez, restou à Ford importar o Fiesta em 1995: a empresa só conseguiu entrar forte no segmento de hatches compactos, o mais disputado do mercado brasileiro de carros, no ano seguinte, quando enfim nacionalizou o modelo.

4. Ford Sierra

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Ford fabricou o Sierra na Argentina, mas o sedã nunca chegou ao Brasil (foto: Ford | Divulgação)

A partir de meados da década de 80, a Ford viu-se com um problema: o Del Rey, representante da marca na então lucrativa categoria dos sedãs médios, vinha perdendo mercado para o Chevrolet Monza e o Volkswagen Santana.

Quando foi lançado, em 1980, o Del Rey impressionou os consumidores com um interior luxuoso e com equipamentos então inéditos no país: foi o primeiro nacional a oferecer vidros elétricos. Porém, os dois novos carros da concorrência eram mais modernos e expuseram as rugas do Ford.

Enquanto Monza e Santana exibiam projetos globalizados, alinhados com as gamas europeias da GM e da Volkswagen, o Del Rey era uma derivação do Corcel II. Consequentemente, o modelo da Ford enfrentava certas limitações, como o entre-eixos curto, que reduzia o espaço traseiro. Os concorrentes também se destacavam em desempenho e em comportamento dinâmico.

A Ford poderia ter respondido na mesma moeda com o Sierra, um sedã europeu de última geração. A revista Quatro Rodas chegou a flagrá-lo em testes por aqui, mas, no fim das contas, só a Argentina produziu o modelo: não custa lembrar que, naquela época, o mercado brasileiro era fechado às importações.

O que impediu de vez a vinda do Sierra ao Brasil foi justamente a criação da Auto Latina, em 1987. A empresa preferiu descartar o próprio projeto e investir na criação do Versailles, que não passava de um clone do Santana. O modelo não fez sucesso e a Ford nunca mais conseguiu se estabelecer nesse segmento.

5. Ford Taunus

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Ford ignorou pesquisa e preteriu o Taunus (foto: Ford | Divulgação)

Eis o veículo que protagonizou uma das histórias de bastidores mais famosas da indústria automobilística brasileira. No início dos anos 70, a Ford estudava opções de carros para preencher a linha nacional: a fabricante desejava um produto entre o acessível Corcel e o luxuoso Galaxie. Eram candidatos o alemão Taunus e o estadunidense Maverick.

Para balizar a escolha, a Ford realizou uma clínica, tipo de pesquisa na qual consumidores analisam pessoalmente os veículos. O preferido do público teria sido o Taunus. Apesar disso, a Ford optou pelo Maverick, que chegou ao mercado em 1973.

A decisão do fabricante era baseada em questões industriais: apenas o Maverick conseguiria acomodar um motor de seis cilindros em linha, originário da Willys Overland, que já era produzido no país. Além do mais, a nacionalização do Taunus exigiria maiores investimentos.

Atualmente, quem é entusiasta de carros antigos certamente fica feliz com a escolha do Ford Maverick. Afinal, quando equipado com o fogoso motor 302 V8, o belo cupê é considerado um pony-car brasileiro. Contudo, do ponto de vista comercial, essa escolha mostrou-se errada, pois o modelo nunca atingiu as expectativas de vendas: saiu de linha já em 1979, após a produção de cerca de 100 mil unidades.

Um dos vilões era justamente o motor Willys, que deveria equipar a maioria dos veículos. Já obsoleto nos anos 70, logo ganhou a fama de beber como o V8, mas com o desempenho de um quatro cilindros. A Ford chegou a lançar um moderno propulsor 2.3 de quatro pistões para a linha 1976, mas era tarde: em plena crise do petróleo, o Maverick foi fatalmente rotulado de gastão.

Carros preteridos pela Ford vêm de longa data

É verdade que essa história ocorreu muito antes de a multinacional fechar as fábricas brasileiras. Entretanto, o Taunus poderia ter proporcionado à empresa uma presença mais sólida no mercado nacional. Inclusive, o sucessor do modelo na Europa foi exatamente o já citado Sierra: ao que parece, faltaram antecessores de sucesso para a encorajar a Ford a produzir todos esses carros por aqui.

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