Apoiadores de Trump invadem Congresso dos EUA e Mike Pence é retirado do Capitólio

Depois de uma grande manifestação que contou com a presença de Trump em frente à Casa Branca, alguns participantes marcharam até o Capitólio para denunciar o que consideram uma fraude eleitoral — o republicano afirmou aos apoiadores presentes que “nunca concederia” a vitória de Biden.

Após enfrentar policiais nas entradas do Congresso, algumas pessoas conseguiram entrar no prédio, o que levou à suspensão das sessões no Senado e na Câmara e ao bloqueio de acesso aos corredores das duas casas.

Com isso, a prefeita de Washington D.C. anunciou um toque de recolher a partir de 18h no horário local (20h em Brasília).

Segundo Kayleigh McEnany, porta-voz da Casa Branca, a Guarda Nacional foi convocada para controlar a situação.

A certificação, que normalmente é uma mera cerimônia de formalização, se tornou um evento repleto de emoções e controvérsias neste ano — desde que Trump se recusa a reconhecer a idoneidade do processo eleitoral e sua derrota.

Vídeos postados por jornalistas nas redes sociais mostram confrontos entre policiais e manifestantes nos corredores do Capitólio.

O vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão de certificação, foi levado para um local seguro, enquanto outros parlamentares se abrigaram em seus gabinetes.

Funcionários do Congresso e jornalistas presentes no local relataram ter recebido ordens de se resguardar e colocar máscaras contra gás lacrimogêneo.

Os apoiadores do republicano que conseguiram entrar no Capitólio gritavam “We want Trump” (“Queremos Trump”) e tiravam fotos com estátuas e outras instalações da construção histórica.

Manifestantes e policiais seguram cerca em área externa do Capitólio
Vários homens tirando fotos dentro do Capitólio
 

Enquanto isso, o presidente Trump pediu no Twitter que os manifestantes mantenham a calma: “Por favor, apoiem nossa polícia no Capitólio e as forças de segurança. Realmente estão do do lado de nosso país. Mantenham a paz!”

Depois, em um novo tuíte, o presidente pediu novamente: “Estou pedindo a todos no Capitólio dos EUA que permaneçam em paz. Sem violência! Lembrem-se, NÓS somos o Partido da Lei e da Ordem — respeite a Lei e nossos grandes homens e mulheres em Azul. Obrigado!”

Da festa à fúria

Joe Shields ao lado de mulher, que segura placa dizendo em inglês: 'Trump ou tirania'

Há mais de uma semana, o presidente Trump havia convocado uma marcha de apoiadores em Washington D.C. para pressionar os congressistas a acatar os pedidos de objeção à vitória de Biden feitas pelos seus aliados. Milhares de pessoas, de estados como Geórgia, Michigan, Flórida, Kentucky dirigiram por horas para, como disse o empreiteiro Joe Shields, de 45 anos, “tentar impedir que roubem nossa democracia”. Shields e a mulher, Donna, carregavam uma placa na qual se lia “Trump ou Tirania”.

Eles se juntaram por volta das 9 horas da manhã, milhares de manifestantes que se reuniam em frente ao Obelisco da capital americana e entoavam cantos de “Mais quatro anos” e “Parem a roubalheira”. Embalados por músicas como ‘Macho Man’, do Village People, e agitando bandeiras americanas e da campanha trumpista, os manifestantes passaram horas ouvindo de aliados do presidente que estavam sendo enganados e que hoje seria o dia de revidar.

“Hoje é o dia em que os patriotas americanos começam a anotar nomes e detoná-los”, afirmou o deputado republicano Mo Brooks, o primeiro a oferecer uma objeção à vitória de Biden, sobre os colegas que não queriam embarcar na manobra política.

Manifestantes com bandeiras em frente ao prédio do Capitólio

Mas o clima passou do festivo para o raivoso quando, por volta de meio-dia no horário de Wahington D.C., Trump iniciou seu discurso. O presidente retomou acusações sem provas de que a eleição foi roubada e se voltou contra os integrantes de seu próprio partido. Trump disse ao público que era preciso se “livrar de republicanos fracos”.

Via Twitter, ele foi ainda mais longe e atacou diretamente o vice-presidente Mike Pence por, a seu pedido, não alterar o resultado eleitoral, algo que legalmente ele não poderia fazer. “Mike Pence não tem coragem para fazer o que é preciso para proteger o nosso país”, escreveu o presidente.

Antes mesmo que Trump terminasse seu discurso, a multidão começou sua marcha em direção ao Congresso. Ao chegar aos arredores do prédio, souberam que do lado de dentro republicanos discursavam que acatar o pedido de Trump seria retirar a democracia do país do rumo.

O líder do partido no Senado, Mitch McConnell, afirmou que “nada diante de nós prova que houve em qualquer lugar ilegalidade próxima à escala necessária para ter definido a eleição. Nem pode a dúvida pública por si só justificar uma ruptura radical quando a própria dúvida foi incitada sem qualquer evidência”.

A partir daí, a pressão de milhares de pessoas do lado de fora do prédio não pode ser contida pela força policial.

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