Padre recebe salário? Entenda como funciona essa vocação que vira profissão

Em março de 2023, o Vaticano publicou os dados do Anuário Pontifício 2023. Essa pesquisa funciona como um inventário que traz informações relativas à vida da Igreja Católica no mundo entre 1º de dezembro de 2021 a 30 de novembro de 2022. Segundo a Santa Sé, o Brasil é o país com maior número de batizados no mundo: quase 180 milhões de brasileiros foram batizados na doutrina.

Por mais que muitos não sigam na religião, existe uma figura que é bastante presente, a ainda influente em alguns lugares. No Brasil, segundo dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), há cerca de 30 mil padres atualmente.

São muitas pessoas para poucos sacerdotes. Isso significa que os padres tem bastante trabalho. A profissão de padre é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e integra a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

Padres são responsáveis por guiar uma comunidade na fé católica, celebrando missas, administrando sacramentos, visitando doentes, cuidado da igreja, entre outras funções. Na visão do missionário redentorista Diego Antônio da Silva, que trabalha no Santuário Nacional de Aparecida (SP), um dos principais destinos religiosos do Brasil, antes de ser uma profissão, ser padre é uma vocação.

“Os interesses que um jovem busca para ser padre são muito diferentes dos interesses de um jovem que se especializa para uma determinada profissão. Envolve aspectos pessoais, espirituais, religiosos, culturais e claro, valores religiosos. A vocação ao ministério ordenado como padre é algo muito mais intimista, é uma relação entre a pessoa e Deus”, defende o religioso.

Mas, apesar da mística envolvida, padres recebem salário. Aqui é importante fazer uma separação: os sacerdotes ligados a congregações (grupos religiosos) não recebem uma remuneração individual, mas em grupo, dividida pela comunidade. Já os padres que não pertencem a esse grupo, chamados diocesanos, pois trabalham nas dioceses onde se formaram, são funcionários das paróquias.

Neste segundo grupo se encontra o Padre Raphael Felipe, padre na cidade de Guaratinguetá, vizinha a Aparecida. Segundo ele, um padre diocesano não recebe salário, mas sim um benefício mensal chamado côngrua. Cada diocese decide o valor dependendo do seu bispo diocesano. O valor fica em torno de três salários mínimos.

Os dois sacerdotes explicam que a preparação para se tornar padre é uma caminhada longa. “Para ser padre estudamos em média 10 anos. O tempo de seminário tem essa durabilidade. Cada diocese ou congregação tem o seu tempo estabelecido. Algumas levam até mais tempo. As faculdades de Filosofia e Teologia são indispensáveis”, explica padre Raphael.

Outro dado importante: não existe plano de carreira para o sacerdócio. Para quem olha de fora, pode até parecer que um padre pode ser “promovido” a bispo, mas essa não é a realidade, segundo os entrevistados.

“Se um padre for nomeado bispo, é uma missão pela qual o Papa Francisco está lhe confiando. Obviamente, o mercado de trabalho enxergaria essa realidade como uma promoção. A Igreja não enxerga dessa maneira”, afirma o sacerdote de Guaratinguetá.

Como o ofício integra a CBO, sacerdotes podem se aposentar legalmente. Mas, se aposentar, não significa pendurar a batina. “Ele não deixa de ser padre quando se aposenta. É como se fosse um pai, ou avô. Ele só deixa de ser padre quando morre. Por isso que é uma vocação”, conclui padre Diego.

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