CASO BACKER: Cerveja ‘envenenada’ é relançada e provoca revolta de vítimas

A cervejaria Backer realizou uma festa para “relançar” a cerveja Capitão Senra, no último sábado (17), no Templo Cervejeiro, no Bairro Olhos D’Àgua, em Belo Horizonte.

O restaurante, fechado desde o final de janeiro devido às acusações de utilização de dietilenoglicol na fabricação de cervejas, voltou a funcionar com uma festa só para convidados, com direito a um chef de cozinha renomado. A informação é de uma fonte que preferiu não se identificar. Nas redes sociais, inclusive, a reportagem apurou que o restaurante funcionou no fim de semana e um banner com a nova cerveja foi colocado no local.

“A reabertura do Templo Cervejeiro advém do respeito da Backer a todos os requisitos e condições legais de funcionamento. A empresa é a principal interessada no esclarecimento de toda e qualquer irregularidade relacionada com suas atividades e, nesse sentido, tem colaborado com o trabalho de autoridades e dos órgãos de fiscalização e controle, ao mesmo tempo que reafirmou a certificação da excelência de seus processos produtivos”, informou a cervejaria por meio de nota, sem responder outras perguntas do EM.

A reportagem tentou contato com a cervejaria parceira da Backer, que seria a responsável pela nova produção, mas sem sucesso.

Indignação

Familiares e vítimas da intoxicação estão revoltadas. “Após a denúncia da Justiça, de que foi um crime cometido por eles, como pode acontecer um evento no próprio local onde aconteceram tais violações?”, questiona Luciano Guilherme de Barros, de 57 anos, que ficou 180 dias no Hospital Mater Dei, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, sendo 65 dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI). ” É uma afronta com as vítimas da cervejaria”, acrescentou.

Ele ainda sustenta que a empresa não arcou com as despesas das vítimas, alegando não ter recursos para tanto. “Mas como pode isso, não ter dinheiro para as despesas das vítimas e, ao mesmo tempo, gastar dinheiro com a reabertura do pólo cervejeiro? Eu imagino que isso não deve ser nada barato”, alegou.

Luciano contou que está fazendo fisioterapia cinco vezes por semana e fonoaudiologia por três vezes. “Sendo que a fonoaudiologia é toda custeada por mim. Aliás, além de eu ainda ter dificuldades de caminhar e os nervos da face não terem voltado totalmente, após consulta com oftalmologista, precisei usar óculos por causa das lesões que tive nos olhos e, mesmo assim, não enxergo bem e o pior, perdi parte da audição nos dois ouvidos e estou tendo que usar aparelhos contra surdez, o que foi muito caro e nada disso foi pago pela Backer”, disse.

Um dos advogados das vítimas Guilherme Leroy disse que todos enxergam a novidade com preocupação. “Não pela possibilidade de reabrir e voltar a vender a cerveja,  porque isso é de responsabilidade das autoridades.  As vítimas confiam que as autoridades saberão se há qualidade ou não para que o produto seja consumido e a população vai consumir se desejar ou não”, disse.

Entrentanto, a preocupação é com o comportamento da empresa, que parece estar priorizando retomar as suas atividades. “Elas lamentam ao saber de um lançamento com uma reunião de pessoas, mesmo diante de tudo que aconteceu e da situação grave em que as vítimas permanecem. E o pior de tudo:  sem o apoio devido da cervejaria. As ajudas obtidas pelas vítimas, até o momento, são muito pequenas, tornando a situação delas cada vez mais preocupante. Isso porque a empresa parece se manter inerte, sem  tomar as devidas providências para tentar compensar ou responder a tudo que aconteceu e que já está comprovado”, acrescentou.

Denúncia 

As denúncias contra donos e funcionários da Cervejaria Três Lobos Ltda, conhecida pelo nome de Cervejaria Backer, foram recebidas pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, Haroldo André Toscano de Oliveira, na última sexta-feira.

No total, 11 pessoas viraram réus. Três sócios-proprietários da empresa, Ana Paula Silva Lebbos, Hayan Franco Khalil Lebbos e Munir Franco Khalil Lebbos, foram denunciados pelo Ministério Público pela prática dos crimes de envolvimento na adulteração de bebidas alcoólicas, perigo comum e crimes tipificados no Código de Defesa do Consumidor.

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