DRIBLANDO A POLÍCIA: Como bandidos têm transformado carros abandonados em depósitos de drogas

A criminalidade sempre se reinventa para driblar as autoridades. A última moda envolve os carros abandonados pelas ruas, utilizados por traficantes para esconder drogas e armas. Esses veículos são colocados em pontos estratégicos para a logística dos bandidos e, por aparentarem estar largados, geram pouco interesse de quem passa por eles.

Exemplos recentes chamam a atenção. No dia 27 de outubro, a equipe do Canil da Guarda Civil Municipal (GCM) de Suzano (SP) localizou 44 pinos de crack, 26 de cocaína, 71 papelotes de maconha e 17 invólucros de haxixe em um carro abandonado.

No dia 25 de outubro, o DOF (Departamento de Operações de Fronteira), apreendeu 431 kg de maconha em mais um carro abandonado. Em outro caso, do dia 8, policiais militares do Espírito Santo encontraram mais de 20 kg de maconha embaixo de um veículo largado.

O que as autoridades dizem sobre a criatividade dos bandidos? O delegado do Dise (Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes), e o delegado do SIG (Setor de Investigações Gerais), responsável por atuar contra crimes patrimoniais, como furtos e roubos, comentam.

O comandante do Dise preferiu não identificar os oficiais que conversaram para a reportagem. Por outro lado, Gabriel Hartfiel, Delegado Supervisor do SIG da Delegacia Seccional de Diadema, aceitou falar em nome da corporação que representa.

Ambos afirmam que casos com carros abandonados acontecem em situações mais pontuais. O SIG já apreendeu um Audi blindado que, apesar de estar aparentemente abandonado e com a documentação totalmente irregular, tinha capacidade de rodar. Dentro dele, foram encontrados um simulacro de arma de fogo, 58 tabletes de maconha, além de crack, cocaína e uma balança de precisão.

É Interessante a diferença de perfil entre os carros e suas documentações, quando comparamos os casos investigados por um e pelo outro. Enquanto o Dise se depara mais com carros que pouco levantam suspeitas (sempre com a documentação em dia ou até mesmo carros alugados), o SIG lida mais com veículos como aqueles “só para rodar” e com mais irregularidades.

Isso tem muito a ver com o fato de que o Dise aborda carros transportadores de drogas com muita frequência. Se o carro está aparentemente em dia, ainda que registrado em nome de “laranjas” (que sabem ou não que estão sendo usados), não levantará muitas suspeitas dos policiais.

O delegado do Dise também relata lugares dentro dos veículos onde já foram encontradas drogas. Já se deparou com uma Fiat Toro com dois compartimentos extras. O carro, registrado por um dono na Bahia (que não tinha nada a ver com os crimes) foi recolhido em SP. Em outro caso, em um Renault Logan, foi encontrado um fundo falso no banco traseiro.

Quando são casos envolvendo caminhões, o departamento de combate ao tráfico de entorpecentes nota que os caminhoneiros costumam ser legítimos da profissão, mas que acabaram aceitando o trabalho. Muitas vezes, usam as cargas regulares para esconder as ilícitas.

Além do Audi, o SIG já flagrou uma Fiat Toro de locadora com narcóticos. Quem estava dentro do carro não era a mesma pessoa que contratou o aluguel, ainda que, no fim das contas, foi descoberto que o cliente também era um dos envolvidos.

Outro caso do SIG foi uma Fiat Fiorino disfarçada de carro de operadora de telefonia móvel. Os criminosos se deram o trabalho de maquiar o carro com todas as plotagens oficiais, que foram instaladas da mesma forma que os carros da frota da empresa. No interior do veículo, foram encontradas 20 pistolas e dois fuzis.

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