Anvisa emite alerta sobre ‘superfungo’, mas situação não é para pânico

Como se 2020 já não estivesse perigoso o suficiente com a pandemia da COVID-19, um novo problema chegou para chamar a atenção dos profissionais da saúde. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um alerta ao Brasil, na última terça-feira (8), informando o andamento de uma investigação sobre o primeiro caso positivo de um fungo grave.

Chamado de Candida auris, ou apenas C. auris, o fungo é resistente a medicamentos e é responsável por provocar infecções hospitalares que podem levar à morte. Em todo o mundo, essas formas de infecção por fungos já provocaram a morte de 30% a 60% dos pacientes contaminados. O fungo foi descoberto em 2009, no Japão, dentro do canal auditivo de um paciente, e já foi encontrado em mais de 30 países, com cerca de 4,7 mil casos.

C. auris é altamente resistente em ambientes hospitalares, proliferando-se pelos móveis, bancadas, paredes e outras superfícies, permanecendo nelas por semanas, o que aponta para a importância da higienização desses locais. Além disso, esse fungo pode ser confundido com outras formas de infecções por outros fungos, como a candidíase. Com essa confusão, os médicos acabam tratando o paciente com medicamentos antifúngicos tradicionais, como os receitados para combater proliferação por C. albicans, que, embora presente naturalmente em nosso organismo, pode ser o causador da candidíase vaginal por alterações de pH.

No entanto, os antifúngicos não funcionam com o C. auris porque ele surgiu em uma época em que as pessoas já estão acostumadas a ingerir substâncias antimicrobianas e antifúngicos. Dessa maneira, ele acaba se tornando mais resistente ao que deveria ser um veneno para ele. Quanto mais o novo fungo se reproduz, mais resistente ele fica.

Vale comentar que os fungos se aproveitam de pessoas com imunidade baixa ou que façam o uso frequente de antibióticos para se proliferarem. Quando o C. auris contamina a pele e a mucosa, o tratamento é mais fácil, mas o problema se torna mais grave quando o fungo entra na corrente sanguínea. A transmissão costuma acontecer através do uso de equipamentos médicos, como estetoscópios e termômetros, por exemplo, mas também podem acontecer em contato com mãos contaminadas que não foram higienizadas.

A Anvisa revelou que o fungo foi identificado na ponta do cateter usado em um paciente adulto internado na UTI de um hospital da Bahia. A amostra foi coletada para ser estudada pelo Laboratório Central de Saúde Pública Profº Gonçalo Moniz (Lacen), em Salvador, e pelo Laboratório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Ainda de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, amostra coletada do fungo irá passar por análises que irão verificar a sua sensibilidade e resistência, além de obter o seu sequenciamento genético. Como forma de prevenir que o fungo continue se alastrando pelo país, a Anvisa sugere que todos os serviços de saúde do Brasil reforcem a vigilância laboratorial para essa espécie.

Alerta ou alarme? Calma, não precisa entrar em pânico!

Apesar da nota da Anvisa, alguns estão chamando o C. Auris de superfungo por apresentar grande resistência a antifúngicos e drogas específicas, mas o comunicado não vem para causar alarmismo e muito menos pânico na população. Em entrevista ao mineiro O Tempo, o infectologista Estevão Urbano explicou que, por conta da baixa quantidade de casos, ainda não é hora para ficarmos impressionados.

Só há um caso no Brasil, e ainda assim, existe possibilidade de tratamento. Há várias espécies derivadas do gênero Candida, cujo tratamento, inclusive, é semelhante. “Essa espécie nova já vem trazendo preocupação para a comunidade cientifica há alguns anos, já causou surtos hospitalares em lugares no mundo, muitas vezes em Centros de Tratamento Intensivo (CTI), assim como outras espécies de cândida fazem. A diferença é que ela é mais resistente aos antifúngicos que tratam facilmente outros tipos. O que chama a atenção é isso”, explica o médico.

O infectologista Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) explica que “o fungo Candida auris não tem potencial epidêmico”. Isso porque ele “causa infecções hospitalares ou em pessoas sem defesas. Existem desdobramentos, como a transmissão da resistência, que não ocorreram e, talvez, nunca ocorram… mas são temidos”, completa o infectologista sobre o alerta.

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