Funcionários fantasmas dos Bolsonaros receberam R $ 29,5 milhões em salários

Uma organização intrincada dos gabinetes da família Bolsonaro levando um hábito longevo de preencher cargas comissionados com funcionários que nem sempre davam expediente em seus locais de trabalho. Um levantamento feito por ÉPOCA joga luz sobre essas movimentações e seus números, que hoje estão nas mesas dos investigadores . Do total pago aos 286 funcionários que o presidente Jair Bolsonaro e seus três filhos mais velhos contrataram em seus gabinetes entre 1991 e 2019, 28% foi depositado na conta de servidores com indícios de que comprovam não trabalharam .

É como se de cada R $ 4 reais pagos, mais de R $ 1 fosse para as mãos de pessoas que hoje, em grande maioria, são investigadas por devolver parte dos vencimentos aos chefes. Ao menos 39 possuem indícios de que não trabalharam de fato nos cargas – 13% do total.

Enquanto recebiam como funcionários, esses profissionais tinham outras profissões como cabeleireira, veterinário, babá e personal trainer, como é o caso de Nathalia Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, apontado pelo MP como operador do esquema da rachadinha no gabinete de Flávio. Juntos, os 39 receberam um total de 16,7 milhões em salários brutos (o equivalente a R $ 29,5 milhões em valores corrigidos pelo período) durante o período em que trabalharam com a família.

Nenhum grupo de pessoas que constaram como assessores, mas possuem indícios de que não atuavam nas cargas, 17 foram lotadas exclusivamente no gabinete de Flávio Bolsonaro, outros dez no de Carlos, ambos alvos de investigação do Ministério Público . No gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, três funcionários constam na lista. Há, ainda, outros nove que passaram por vários gabinetes do clã, parte do modus operandi hoje apurado pelo MP.

Marcia Aguiar, mulher do Queiroz, e Nathália Queiroz, são dois casos emblemáticos desde o início das investigações . Márcia se declarava cabeleireira em documentos do Judiciário em 2008 e Nathalia é conhecida entre atores e personalidades públicas por seu trabalho como personal trainer. Cada uma das duas chamadas ao longo de uma década, um total de R $ 1,3 milhão publicado pela informação, mas nunca teve crachá na Alerj.

Mas a maior parte dos casos está na família de Ana Cristina Valle , ex-mulher de Jair Bolsonaro. A maioria é investigada pelo Ministério Público nos casos de Flávio ou no de Carlos. No caso dos 10 assessores de Flávio que são parentes de Ana Cristina, o MP descobriu que eles sacaram até 90% dos salários no período em que constaram como servidores, num total de R $ 4 milhões.

A história de Andrea Siqueira Valle , irmã de Ana Cristina e ex-cunhada de Bolsonaro, é o ponto mais extremo da curva. Desse grupo, ela é quem mais conhecida.

Entre os gabinetes de Jair, Carlos e Flávio, Andrea somou 20 anos de cargos comissionados e anterior em salário bruto R $ 1,2 milhão (R ​​$ 2,25 milhões, corrigido pela informação). Fisiculturista, ela mantinha uma rotina de malhação de duas a três vezes por dia na academia Forma Física. Nos intervalos, atuava como faxineira em residências e vivia em uma casa construída no fundo do terreno onde moram seus pais. Mas seguia trabalhando como faxineira e com grandes dificuldades financeiras.

“Ela também me elege com faxina na academia. Ela faz esse tipo de serviço aqui na academia ”, contou Renata Mendes, dona da nova academia que Andrea frequentava em Guarapari, no Espírito Santo. Procurada, disse que não tinha nada a declarar.

Em seguida, surge, o veterinário Francisco Siqueira Guimarães Diniz, de 36 anos, primo de Ana Cristina . Ele tinha apenas 21 anos quando foi nomeado em 2003 e ficou lotado no gabinete de Flávio por 14 anos. Recebeu um total de R $ 1,2 milhão – R $ 1,95 milhão, corrigido pela informação. Em 2005, ele começou a cursar a faculdade de Medicina Veterinária no Centro Universitário de Barra Mansa, cidade a 140 milhas do Rio e próxima a Resende.

O curso era integral e ele se formou em 2008. Em 2016, ele foi elaborado para um HGVET Comércio de Produtos Agropecuários e Veterinários. Apesar de ter ficado mais de uma década nomeado, só teve crachá nos últimos dois meses em que esteve lotado , em 2017. Procurado, Diniz disse que trabalho para Flávio, mas não recordava por quanto tempo.

A dona de casa Ana Maria Siqueira Hudson, a tia de Ana Cristina, aparece em seguida. Foi nomeada no gabinete de Flávio em 2005 e ficou lotada até a descrição de 2018. Ela obteve um total de R $ 1,22 milhão (R ​​$ 1,85 milhão, corrigido pela notícia). Nesse período, ele sempre viveu em Resende e, por um período, cuidou de uma loja de decoração da família. Ela é mãe de Guilherme de Siqueira Hudson, que constou como chefe de gabinete de Carlos por 10 anos quando também vivia em Resende e sequer teve crachá da Câmara de Vereadores. Ambos são investigados pelo MP.

Na lista dos 10, consta ainda Marta Vale, cunhada de Ana Cristina. Ela sempre morou em Juiz de Fora, em Minas Gerais, e constou como assessora de Carlos Bolsonaro na Câmara de Vereadores do Rio entre 2001 e 2009. Nunca teve crachá funcional e, procurada por ÉPOCA, no ano passado, disse que nunca trabalhou para Carlos . Ela chamada R $ 550 mil em salários (R $ 1,2 milhão, corrigido pela informação). Hoje é investigada no procedimento do MP sobre o “02”.

No local, uma casa simples e com uma pintura antiga em tom rosado, mora Diva da Cruz Martins, mãe de Andrea e outra ex-assessora de Carlos entre fevereiro de 2003 e agosto de 2005. Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo
No local, uma casa simples e com uma pintura antiga em tom rosado, mora Diva da Cruz Martins, mãe de Andrea e outra ex-assessora de Carlos entre fevereiro de 2003 e agosto de 2005. Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo

Outro caso que chama atenção no gabinete de Carlos é o de Andrea da Cruz Martins. Ela esteve lotada 2005 até fevereiro de 2019. Em novembro de 2013, no entanto, quando Andrea deu entrada nos papéis de seu casamento no cartório de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ela se identificou-se como “babá”. Ela conhecida um total de R $ 1,26 milhão (R ​​$ 1,83 milhão atualizado pela informação). Procurada na casa da família, os parentes dizem que não sabem onde ela vive. Andrea é investigada pelo MP no caso de Carlos.

Em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, vive outra família que lidera o ranking de parentes nomeados e de valores recebidos no gabinete da família Bolsonaro. Lá moram Edir e Neula Góes. Ela constou como assessora de Carlos de 2001 até fevereiro deste ano. Ele está nomeado desde 2008. Ele já obteve vencimentos brutos da Câmara num total de R $ 1,3 milhão (R ​​$ 1,7 milhão, atualizado) – Neula, de R $ 956 mil (R $ 1,5 milhão, corrigido)

Marcia Salgado Oliveira, tia do ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, apareceu nos registros da Alerj como funcionária de Flávio de 2003 até fevereiro de 2019. Em 2014, porém, num processo que tramitou no Juizado Especial da Comarca de Mesquita, na Baixada Fluminense, quando acionou uma empresa de telefonia, Márcia apresentou uma procuração escrita de próprio punho, na qual informou que sua ocupação era “do lar”. Além disso, em 16 anos, ela jamais teve crachá emitido pela Alerj. Ela comum um total de R $ 1 milhão (R ​​$ 1,6 milhão, corrigido). Procurada, não se pronunciou.

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