‘Tive surto e resolvi entregar criança’, diz mãe de bebê desaparecido em Santa Catarina

Um bebê de dois anos foi declarado desaparecido em Santa Catarina na última semana e foi encontrado em São Paulo. A mãe da criança, de 22 anos, disse que sofreu um surto e decidiu entregar a criança. O caso é investigado pela polícia como tráfico de pessoas.

Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, exibida neste domingo, 14, a mulher relatou que estava em um grupo numa rede social que prestava apoio a mães, enquanto estava grávida em 2020. Foi quando ela começou a trocar mensagens com Marcelo Valverde Valezi, de São Paulo.

“Ele contou a história dele, que ele é ‘tentante’ junto com a mulher dele, já tiveram diversos abortos”, relatou a mãe. E as propostas, segundo ela, começaram: “Ele falava muito que se eu botasse uma criança no mundo para sofrer, aquilo ia me gerar carma, gerar carma na criança, então ele foi usando tudo o que ele podia”.

O bebê nasceu em abril de 2021. Três anos após os primeiros contatos com Marcelo, a mãe e ele começaram a trocar mensagens com mais frequência. Ao Fantástico, as mensagens foram reveladas e mostraram que Marcelo não queria mais ficar com o bebê, mas disse que conhecia uma mulher, Roberta Porfírio, que tinha interesse. Ele passou a combinar encontros com Roberta para entregar a criança.

A entrega seria feita na praça de alimentação de um shopping na cidade de São José, mas a mulher teria se atrasado. O encontro aconteceu na rua e foi registrado por uma câmera de segurança, que flagrou o momento em que um carro buscou a mãe e o filho. Segundo a mãe da criança, o veículo parou no estacionamento de um supermercado e ela foi convencida de entregar a criança.

“Eu teria que tomar uma decisão ali mesmo, né? Por pressão e pela manipulação, que eu já estava ali naquele local, dentro do carro deles, eu acabei cedendo e fazendo isso, né? Eu tive um surto e resolvi entregar a criança a ele, mas sem pensar que poderia ser uma quadrilha de tráfico ou algo do tipo”, revelou a mãe.

Após entregar o filho, ela pediu para passar a noite em um hotel, que teve a diária paga por Roberta em dinheiro. No dia seguinte, ela voltou para casa sem a criança, que foi levada à praia de Balneário Camboriú, onde Roberta tem família. Em seguida, o menino foi de carro para Tatuapé, em São Paulo. A mãe conta que entrou em desespero.

“Foi ali naquele momento que eu comecei, infelizmente, a cair a minha ficha do que eu realmente tinha feito. E foi aonde no outro dia eu tentei contra minha própria vida, né?”, contou ao Fantástico.

Ela relatou ainda sofrer de ansiedade de depressão, e foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital, onde ficou em coma. A mãe dela, avó do menino, sentiu falta da criança e começou as buscas.

“A gente começou a procurar nos lugares mais óbvios, né, assim, tipo na casa de alguém, algum conhecido. Corremos atrás de uma delegacia para prestar depoimento. Muito triste, parece assim que a pessoa enfia uma faca no teu peito, e a dor é tão grande que não consegue puxar aquilo, tirar aquela dor, sabe? É muito desesperador”, contou a avó.

A polícia identificou uma adulteração na placa do carro usado para buscar o bebê, que estava com uma fita. Dessa forma, no dia 8 de maio, sete dias depois do bebê ser levado para São Paulo, a Polícia Militar localizou o veículo no Tatuapé. Ao volante, estava Marcelo, e no banco de trás, Roberta e o bebê. Os dois foram presos e a criança foi levada para um abrigo.

Defesas

A polícia irá recolher informações para apurar se houve algum tipo de ganho financeiro com a entrega do bebê. Marcelo e Roberta estão sendo investigados por tráfico de pessoas.

“Não houve rapto de criança, não houve nada disso. Tudo foi feito mediante consentimento da própria genitora do menor. Ela quis. O Marcelo na intenção de ajudar, pensando no bem da criança também, foi que ele passou o contato da Roberta”, disse Laryssa Nartis, advogada de Marcelo, ao Fantástico.

“Eles estavam na praia. No meio do feriado houve essa chamada que a moça estava desesperada. Comoveu a Roberta que falou ‘então tá, vamos lá pra ver’, para ajudar mesmo”, disse Olavo Carlos Ferreira, advogado de Roberta.

Sobre a adulteração da placa, o advogado afirma: “Ela estava com o carro dela. Pra mim, isso não existe.”

Atualmente, a criança está em um abrigo, em São Paulo, e o Tribunal de Justiça de Santa Catarina determinou que ela seja transferida nesta segunda-feira, 15, para Santa Catarina, mas o menino não deve voltar para a casa da mãe.

Mostrar mais
Botão Voltar ao topo