Lana Del Rey alterna angústia e esperança no disco boca-suja ‘Norman fucking Rockwell’

Sexto álbum tem bons momentos, belas melodias e também enrolação. Com músicas cheias de sexo, drogas, violinos e um pouco de rock, Lana reflete sobre os EUA de 2019

Se o mundo estiver mesmo acabando, o sexto disco da Lana Del Rey pode ser a versão musical das fotos de Nana Gouvêa nos escombros de um furacão. Lana tenta achar alguma beleza e até graça na tragédia.

“Norman fucking Rockwell” tem personagens perdidos, arranjos de cordas e uma visão sarcástica da cultura americana, de vício em remédios a “Kanye West loiro”. Mas há esperança, quase sempre via referências musicais ou geográficas à Califórnia, onde ela mora hoje.

Norman Rockwell, o artista citado no título, explorou a vida americana comum no meio do século passado. Ela atualiza este retrato com um jogo de luz e sombra. Após “Lust for life”, um disco mais solar, ela passeia por angústia e redenção.

Os palavrões na faixa-título, de abertura, em “Venice bitch” e em “Fuck it, i love you’, têm a ver com a exclamação da capa do disco. A boca-suja serve para demonstrar espanto e criar títulos engraçadinhos. É uma forma de ser debochada, mas ainda emotiva.

O produtor e principal coautor é Jack Antonoff, o mesmo de “Lover”, que Taylor Swift lançou na semana passada. Só que sua marca de pop eletrônico anos 80, que aparece no disco de Taylor, não tem vez aqui. Lana é tão Lana que não tem sobra muito espaço para ninguém.

A primeira metade é sensual, com a cara de sua Califórnia, e até leveza de espírito em “Venice bitch” e “Love song”. Lana até fala de desespero e melancolia, mas em geral ela está consolando as pessoas que se sentem assim.

É o caso do amante perdido de “Mariners apartment complex”. Essa música já tinha sido lançada e foi assunto do programa G1 Ouviu.

A melhor música sobre alguém ferido e socorrido por Lana é “California”. Ela descreve uma pessoa que teve problemas e saiu dos EUA. O início é sombrio, mas a música vai virando um sonho californiano alegre – ao menos na imaginação da volta da tal pessoa ao país.

Em geral, são músicas longas e arrastadas. Várias têm mais de cinco minutos. “Venice bitch”, a recordista, tem quase dez minutos – seis deles de enrolação desnecessária.

As melodias são elaboradas e bonitas e vão na direção contrária de grande parte do pop atual. Bons exemplos são de “How to disappear” ou “Happiness is a butterfly”, com o refrão espertinho:

“Se ele for um serial killer / o que pode acontecer de pior / com uma garota que já está ferida?”

Outra desse grupo de faixas longas, com bela melodia e uma tristeza autoirônica, é “Hope Is a Dangerous Thing for a Woman Like Me to Have – but I Have It”. Ela também já tinha sido lançada e foi comentada no G1 Ouviu.

“The greatest” tem um dos momentos de rock psicodélico espalhados pelo disco. A letra tem o máximo do pessimismo dela com os EUA, com referência a incêndios (dessa vez, a Califórnia sai do paraíso e vira inferno), num clima de fim do mundo.
“Kanye West está loiro e ausente”, ela canta, evocando a perturbadora imagem do rapper de cabelo pintado ao lado de Donald Trump. “‘Life on mars’ não é só mais uma música”, ela completa, citando a canção de David Bowie e a tragédia climática que já nos faz pensar em mudar de planeta.

Tudo bem que há algumas músicas mais curtas e com batidas fortes, como “Fuck it, I like you” e a versão de “Doin’ time”, do Sublime, ambas espirituosas. Esta cover inusitada gerou comoção entre os fãs na véspera de sair o disco, nesta quinta-feira (30).

No começo da carreira ela era vista como um tipo de golpe de marketing. Contra todas as previsões, ela constrói uma carreira cada vez mais elogiada e regular. Mesmo que o disco tenha seus exageros, Lana já está muito além de uma miragem.

Com informações do G1

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