‘Jogo cínico que Moro e Dallagnol estavam fazendo no começo acabou’, diz Glenn Greenwald

O jornalista e advogado Glenn Greenwald disse hoje que as afirmações do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, de que não reconhecem a autenticidade das mensagens vazadas pelo site The Intercept e de que poderiam haver eventuais adulterações nos conteúdos publicados não se sustentam.

“A autenticidade desse arquivo não está mais em dúvida. Esse jogo cínico que o Moro e Dallagnol estavam fazendo no começo acabou. A questão é como vamos fortalecer o combate à corrupção. Sabemos que temos o ministro da Justiça e o coordenador que usavam métodos completamente corruptos, não em casos isolados, mas o tempo todo”, disse ele, ao ser entrevistado no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, transmitido ao vivo pelo UOL.

O jornalista citou como justificativa para sua afirmação o caso da procuradora Jerusa Viecili, da força-tarefa da operação em Curitiba, que publicou um pedido de desculpas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em suas redes sociais no dia 27 de agosto, reconhecendo a veracidade de uma mensagem.

Ela foi uma das citadas em reportagem do UOL que mostrou que membros do Ministério Público Federal (MPF) ironizaram a morte da esposa de Lula, Marisa Letícia, em 2017, e os pedidos do ex-presidente para ir aos enterros de familiares que morreram neste ano.

“Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, escreveu a procuradora em seu Twitter.

Greenwald é sócio e cofundador do Intercept, site que deu início em 9 de junho à série de reportagens baseadas nos diálogos vazados de procuradores da Lava Jato e de Sergio Moro, ex-juiz federal responsável pelos julgamentos da força-tarefa.

“Não estamos enfraquecendo a Lava Jato”

O jornalista disse que era um defensor da Lava Jato e do combate à corrupção, que, segundo ele, é um “problema enorme” no país, mas que mudou de opinião e passou a vê-la de outra forma após ter acesso aos diálogos vazados.

“É impossível combater a corrupção com corruptos ou métodos corruptos. Então, acredito, sem dúvida, que o trabalho jornalístico que estamos fazendo não está enfraquecendo a Lava jato, está fortalecendo a Lava jato e o combate à corrupção, porque está levando mais integridade e mais credibilidade [à operação]”.

Questionado se a decisão de Moro de aceitar ser ministro do governo de Jair Bolsonaro pode tê-lo enfraquecido e também a Lava Jato, Greenwald lembrou que, conforme mostram diálogos travados entre procuradores já publicados pelo Intercept, o próprio Deltan chegou a dizer que tal decisão poderia “destruir” tais legados. “Porque iria parecer o tempo todo que ele era exatamente o que as pessoas estavam acusando, que ele era uma pessoa da direita, fazendo tudo com motivos políticos”, comentou Greenwald.

O jornalista foi ainda perguntado se Moro poderia se tornar um potencial candidato na sucessão de Bolsonaro na Presidência da República. “Se Jair Bolsonaro pode ganhar uma eleição, qualquer um pode”, respondeu.

“Nunca pagaria por conteúdo”

O jornalista disse ainda que não pagou pelo conteúdo que vem sendo publicado no Intercept e que nem pagaria. “Nunca pagamos nenhum centavo para nenhuma fonte, inclusive a fonte que passou essa informação para a gente”, disse.

Greenwald disse, no entanto, que discussão mais importante sobre a fonte, ou se ela foi paga ou não, é o conteúdo que tem sido divulgado. “Eu acho que o mais importante é o conteúdo, mostrando o que os poderosos fizeram, e não quem é nossa fonte. O público tem o direito de saber que essas pessoas poderosas fizeram nas sombras”, disse.

Greenwald disse que os jornalistas têm não só o direito, mas a obrigação de publicar conteúdo como o que ele e sua equipe vêm publicando. “Isso é a história dos jornalistas não só aqui mas em todo o mundo democrático.”

Jornalistas ou hackers

Questionado se a polícia vier a descobrir que o hacker, fonte do Intercept, recebeu dinheiro para obter e divulgar as mensagens, se o site iria interromper a série de reportagens, Greenwald disse que não.

“Absolutamente não. O jornalismo mais importante e mais premiado muitas vezes vem de fonte que cometeu crime. Não é o papel dos jornalistas perguntar de onde vem a informação. Isso não tem nada a ver com o fato de que essa informação tem que ser publicada”, disse.

O jornalista foi então perguntado se não seria o mesmo que substituir jornalistas por hackers, ao que Greenwald respondeu que “jornalistas não têm o direito de quebrar a lei” e que, caso isso aconteça, devem ser presos. “Ser jornalista não significa ter direito de participar de crimes.”

Saldo final da série de reportagens

Sobre um possível efeito cascata que pode alcançar 143 réus na Lava Jato após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular a condenação imposta por Moro ao ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, Greenwald disse não ver essa possibilidade como responsabilidade ou um saldo final das reportagens que têm sido publicadas.

“Em todos os países, há a mesma regra. Se o Estado comete ações ilegais ao condenar, o processo é injusto. Se corruptos serão soltos, isso não é culpa nossa, que estamos revelando isso, mas dos juízes e dos procuradores.”

Com informações do UOL

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