‘Uber X se negou a ligar o ar-condicionado’; motorista pode fazer isso?

Há alguns dias,a imprensa destacou postagens nas redes sociais sobre motoristas de aplicativos que estariam cobrando Pix “por fora” para acionar o ar-condicionado do veículo durante as corridas.

A polêmica não se limita a isso: passageiros têm relatado que motoristas da categoria X da Uber, que geralmente tem a menor tarifa, estão se negando a ligar a climatização do carro nestes dias de calor intenso.

Usuário da plataforma relatou à nossa reportagem que, após solicitar uma corrida, recebeu mensagem de texto do aplicativo orientando a pedir Uber Comfort, categoria mais cara, caso ele desejasse o acionamento do ar-condicionado.

Conforme esse usuário, que preferiu não se identificar, tal mensagem teria sido enviada pelo próprio condutor, fazendo parecer que se tratava de um alerta oficial do suporte da Uber.

Vale destacar que, dependendo do veículo, o mesmo motorista pode estar cadastrado em diferentes categorias da Uber,

Outro usuário da plataforma relata ter passado pela mesma coisa.

“Peguei um Uber X recentemente. Pedi para o motorista ligar o ar-condicionado. Ele concordou, mas disse que a categoria X não ligava mais, só Comfort e Black”.

No detalhamento de preços do Uber X, não existe nenhuma menção à suposta restrição ao uso do ar-condicionado. Mesmo assim, o assunto tem rendido debates em grupos e perfis de redes sociais sobre aplicativos de transporte – afinal, a climatização eleva o consumo de combustível em cerca de 10% e reduz os ganhos daqueles que dirigem profissionalmente.

Procurada, a Uber explicou que não utiliza o chat criado entre motorista, parceiro e usuário a cada viagem para enviar comunicações sobre a plataforma. Caso o usuário tenha dúvidas sobre uma informação, ele deve acionar o suporte por meio da seção Ajuda, no aplicativo, ou por meio do site help.uber.com.

“O ar-condicionado faz parte dos requisitos para o cadastro de automóveis na plataforma da Uber, em todas as modalidades de viagens (UberX, Comfort, Black etc.). Entretanto, não existe obrigatoriedade nem proibição, por parte da Uber, de seu uso durante as viagens, independentemente da modalidade. A temperatura do veículo, assim como outros aspectos como rádio/música, faz parte das preferências de viagem que podem ser combinadas mutuamente entre o motorista parceiro e o usuário para uma viagem confortável para todos”.

E acrescentou que “tanto o parceiro quanto o usuário podem cancelar uma viagem e reportar ao suporte caso não se sintam confortáveis com alguma situação, e também contamos com o sistema de avaliação mútua em que a experiência em cada viagem pode ser avaliada por ambas as partes, para tornar as viagens cada vez melhores para toda a comunidade.

É importante reforçar que o Código da Comunidade Uber estabelece que o motorista parceiro deve realizar manutenção para garantir as condições de funcionamento de todos os itens do veículo, incluindo aqueles exigidos pela legislação, e que usuários não devem aceitar cobranças realizadas fora da plataforma da Uber, que representam violação ao Código e podem levar à desativação da conta responsável.”

Associação de motoristas justifica ar desligado

Eduardo Lima, presidente da Amasp (Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo), alega que muitos profissionais não têm condições financeiras para rodar com ar condicionado ligado – já que, segundo ele, o profissional ganha apenas algo entre 20% e 40% do valor de cada corrida.

“No Uber Confort tem passageiro que entra no carro que está com o vidro aberto e pode solicitar ao motorista ligar o ar-condicionado porque a margem dele nessa corrida é maior. Já no Uber Black, a maioria dos motoristas já chega com veículo refrigerado porque pelos valores das corridas são melhores”, explica.

Lima também defende a cobrança de Pix pelos motoristas de aplicativo em geral.

“O motorista pode dar a opção para o passageiro contribuir, dar um agrado para ajudar a custear a refrigeração. Ele pode tirar do bolso esse valor ou pode economizar o dinheiro e deixar o passageiro no calor”, acrescenta.

Ainda segundo o presidente da Amasp, a diferença entre o uso e o não uso do ar-condicionado costuma ser de R$ 15 a R$ 20 para o bolso do motorista ao final de cada dia de trabalho.

Ao final de um mês, afirma, o gasto extra com o ar-condicionado pode equivaler a três tanques de combustível, diz ele.

O que dizem outras plataformas

Referindo-se a eventual cobrança de ‘caixinha’ ou negativa de acionar a climatização, a InDrive afirma que “pode dar uma advertência ao motorista quando detectar que ele conduziu mal uma corrida” – o que normalmente ocorre quando o passageiro avalia mal o condutor, por meio do aplicativo.

No entanto, a plataforma garante que não interfere na maneira de como o motorista utiliza seu veículo e isso inclui ligar ou manter desligado o ar-condicionado.

“Os motoristas da plataforma não são colaboradores da empresa, mas sim parceiros de negócios. O parceiro, no caso, é um prestador de serviços que, por meio da plataforma, que é responsável somente por conectar demanda e oferta, oferece serviços de carona. No sistema da inDrive, nem mesmo o preço da viagem é definido pela plataforma, pois ele ocorre exclusivamente entre motorista e passageiro.
Portanto, os termos da viagem também dizem respeito apenas a ambos”, diz a empresa.

Procurada, a 99 também afirma que o uso do ar-condicionado deve ser tratado diretamente entre o passageiro e o motorista.

“A 99 informa que é uma empresa de tecnologia voltada à mobilidade urbana e conveniência, que conecta passageiros e motoristas parceiros por meio de seu aplicativo e investe em educação (…). A empresa orienta que a utilização ou não do ar-condicionado seja combinada entre motorista, parceiro e passageiro para que a viagem ocorra de forma confortável para ambos”.

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