‘SEM MÁGOA’: Lula faz primeiro pronunciamento após anulação da condenação que o levou para a prisão

Ainda na expectativa de o Supremo Tribunal Federal considerar o ex-juiz Sérgio Moro suspeito para julgá-lo, o ex-presidente Lula fez seu primeiro pronunciamento desta quarta, 10, sobre a decisão que anulou todas as suas condenações na Operação Lava Jato.

Na segunda, 8, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar quatro ações relativas ao ex-presidente – os casos do triplex de Guarujá, do sítio de Atibaia, da sede do Instituto Lula e de doações da Odebrecht. Desta forma, Fachin anulou todas as decisões de Moro nos respectivos processos, desde o recebimento das denúncias até as condenações, devolvendo a Lula seus direitos políticos e o tornando apto a disputar eleições.

Lula disse não estar ‘bravo” nem “magoado” com sua prisão. “Sei de que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Sei que minha mulher Marisa morreu por causa da pressão” que, segundo o presidente, teria desencadeado o acidente vascular cerebral em Marisa Letícia. Ele citou o fato de ter sido proibido de acompanhar o enterro de seu irmão durante o cárcere. “Se tem brasileiro que tem razão de ter muitas e muitas mágoas, sou eu. Mas não estou.”

O ex-presidente disse que a dor que sente “não é nada” diante da dor que sofrem milhões e milhões de pessoas. “Quase 270 mil pessoas que viram seus entes queridos morrer e sequer puderam se despedir dessa gente na hora sagrada”, diz. “Quero prestar minha solidariedade às vítimas do coronavírus. E aos heróis e heroínas do SUS.”

Ao citar a pandemia, Lula iniciou as críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sem citá-lo diretamente. Lula disse que um presidente não é eleito para dar armas. “Quem está precisando de armas é nossas forças armadas. É a polícia, que muitas vezes sai com um 38 enferrujado. Não seria, segundo Lula, “fazendeiros para matar sem terras” nem “milicianos” que matariam jovens.

A fala do ex-presidente ocorreu em um palco com um grande banner atrás do púlpito. O cartaz trazia frases que devem dar o tom da campanha política do PT daqui para frente: “Vacina para todos e auxílio emergencial já” e “Saúde, emprego e justiça para o Brasil”.

A coletiva do ex-presidente Lula na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ocorreu com respeito a uma série de protocolos de segurança. Não havia funcionários administrativos do sindicato nem apoiadores do ex-presidente ao redor do prédio. Jornalistas, que tiveram de fazer credenciamento prévio, só entraram no local após medição de temperatura e limpeza das mãos com álcool em gel.

Lideranças que apoiaram Lula e também vinham tendo pretensões eleitorais para 2022, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o ex-candidato à Prefeitura da cidade e à Presidência Guilherme Boulos (PSOL) estavam presentes, além da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, do ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho (PT) e dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A decisão de Fachin

A decisão de Fachin atende, quatro anos depois, as alegações da defesa do ex-presidente, que sempre argumentou não ser de competência da 13ª Vara Federal julgar os casos, já que os mesmos não têm relação direta com a Petrobrás – alvo inicial da Lava Jato. Fachin reconheceu essa alegação em sua decisão de segunda, fato que deve ser explorado no pronunciamento desta manhã.

Como mostrou o Estadão, Lula ainda tem futuro incerto – a decisão de Fachin deve ser alvo de recurso da Procuradoria-Geral da República – e diante disso ainda não deve se assumir candidato à Presidência, apesar de seu discurso ir neste sentido. Como informou Vera Rosa, em sua Supercoluna desta quarta, não foi à toa que o petista escolheu o sindicado dos metalúrgicos, para seu primeiro pronunciamento. Berço do PT, foi de lá que Lula saiu, em abril de 2018, para a prisão em Curitiba.

Segundo Vera, Lula vai tentar assumir a liderança da oposição ao presidente Jair Bolsonaro com um discurso de “salvação nacional”, que prega menos armas e mais vacinas. “Nesse retorno à cena política, reabilitado para se candidatar em 2022, Lula foi aconselhado por advogados a não ressuscitar a “jararaca” e a adotar o figurino “paz e amor”.

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