PRF usa metodologia polêmica para divulgar resultados de operações de drogas

A Polícia Rodoviária Federal tem usado metodologia polêmica para divulgar operações. Além de anunciar a quantidade de drogas apreendidas, o órgão também fala em valores, dando a impressão de que o montante fora recuperado aos cofres públicos. A PRF cita apreensões que resultaram em R$ 5 bilhões neste ano.

Os números anunciados são, na verdade, referentes ao prejuízo estimado ao crime organizado. Segundo a instituição, os valores levam em conta diversos itens, desde a origem da droga até o consumidor final, como custo da produção e preço pago pelo usuário. Nessa conta da PRF, o quilo da maconha é estimado em R$ 1 mil, e o da cocaína, R$ 41,7 mil.

Nesta segunda-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro compartilhou uma foto celebrando os números da polícia rodoviária.

“O montante é uma estimativa, para qual a PRF leva em consideração o valor gerado pelo comércio nos grandes centros e de consumo, dos produtos (drogas, veículos, armas, cigarros etc.) ao crime organizado. Desse modo, a monetização das apreensões realizadas pela PRF equivale a cerca de R$ 4,5 bilhões, receita que seria gerada aos criminosos caso os ilícitos chegassem ao consumidor final. Desse total, vale ressaltar cerca de R$ 25 milhões e US$ 2,5 mil foram retirados de circulação, ambos em espécie”, disse o órgão ao Painel.

De acordo com a PRF, mais de 600 toneladas de maconha foram apreendidas em 2020 e mais de 24 toneladas de cocaína.

“Os valores estimados [das drogas] levam em consideração os custos desde a origem até o consumidor final. Isso quer dizer que no quilo de cada droga estão embutidos os custos da produção, a procedência, o grau de pureza, a logística de armazenamento e transporte, o comércio e o valor pago pelo traficante ou usuário da droga”, respondeu a assessoria de imprensa.

Especialistas na área de segurança ouvidos pelo Painel dizem que a contabilidade das operações tem como principal objetivo comparação histórica, para testar a eficiência de estratégias escolhidas, sendo, portanto, mais importante saber quanto efetivamente foi recuperado. Além disso, afirmam, esses resultados servem também para medir qual é o foco que tem sido escolhido pelas polícias.

A metodologia contrasta com a utilizada pela PF, que coloca na conta apenas bens existentes de fato (espécie ou patrimônio), que podem retornar à sociedade.

As operações de combate a drogas, sejam da PRF ou da PF, são as mais compartilhadas pela família Bolsonaro.

Apesar da preferência do clã, o valor apreendido pela Polícia Federal com corrupção ainda é bem maior do que o órgão consegue com drogas. Neste ano, são R$ 6,1 bilhões contra R$ 1 bilhão.

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