Novo satélite de Brasil e China custará até US$ 140 mi

Monitoramento ambiental por radar. Custo total estimado de até US$ 140 milhões (R$ 752 milhões), divididos meio a meio. Voltado para coletar imagem de uso público e não militar. É assim que será o novo satélite sino-brasileiro previsto em um acordo assinado entre o Brasil e a China, durante viagem a Pequim do presidente Lula (PT).

A nova parceria, detalhada com exclusividade pela AEB (Agência Espacial Brasileira), marca a retomada do CBERS (Programa de Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, na tradução do inglês), que promove a cooperação entre os dois países para construção de satélites de monitoramento remoto.

A aproximação dos dois países surgiu em 1988, mas ficou estremecida nos últimos anos, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), devido à conturbada relação com os chineses por motivação ideológica.

Ao longo dos últimos anos, o CBERS vem sofrendo cortes de recursos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência e Tecnologia).

Valores desembolsados por ano no CBERS:

  • 2020: R$ 8.358.209;
  • 2019: R$ 20.096.713,55;
  • 2018: R$ 26.530.353,99;
  • 2017: R$ 59.119.016;
  • 2016: R$ 19.949.417.

O que já se sabe sobre o novo satélite?

O novo satélite sino-brasileiro se chamará CBERS-6 e terá como principal novidade o uso de tecnologia por radar para monitoramento de áreas. Até agora, a coleta de informação se dá por sensores ópticos, o que dificulta o sensoriamento do solo caso as condições naturais não sejam boas.

Empregamos hoje a tecnologia óptica, que na verdade, é a captação de imagens. Com o radar, o satélite vai nos permitir observar objetos sem necessariamente ter a visão ou luminosidade do Sol. Poderemos fazer imagens em condições noturnas e com coberturas de nuvens e de florestas para enxergar o solo. Na Amazônia, existem meses com bastante cobertura de nuvens. É difícil monitorar essas áreas com satélites de tecnologia óptica. O radar vem complementar por passar a radiação através das nuvens

Carlos Moura, presidente da AEB

A AEB adiantou informações sobre o acordo:

  • Para o Brasil, o custo estimado para o desenvolvimento do satélite é de US$ 50 milhões (R$ 269 milhões) a US$ 70 milhões (R$ 376 milhões);
  • O Brasil também arcará com o custo da operação, ainda a ser definido, de lançamento na China;
  • A China desembolsará a outra metade do valor para criar o satélite e disponibilizará o veículo lançados responsável por colocar o foguete em órbita;
  • A previsão é de que fique pronto a partir do quarto ano do acordo;
  • Cada país será responsável por controlar o satélite durante uma quantidade de meses, ainda a ser definida;
  • As imagens coletadas pelo satélite serão públicas;
  • O satélite será lançado de uma base chinesa;
  • O acordo não tem finalidade militar pelos países;
  • O satélite será usado para monitoramento ambiental, sobretudo em áreas da Amazônia;
  • No Brasil, o Inpe será o responsável por operá-lo.

O objetivo não é defesa. A ideia é fazer imagens de grandes áreas. Vamos monitorar grandes áreas de preservação ambiental, assim como observação de agricultura e outras aplicações relacionadas

Carlos Moura, presidente da AEB

Desenvolver um satélite como os da família CBERS é uma tarefa complexa que envolve diversas etapas, incluindo o projeto, a fabricação dos equipamentos e subsistemas, atividades de montagem, integração e testes. Todo esse processo requer muito tempo e investimento

Inpe, em nota

Como funciona o CBERS, parceria entre Brasil e China?

Existente há mais de 30 anos, o CBERS colocou o Brasil no grupo de países detentores de tecnologia de geração de dados de sensoriamento remoto via satélites. Desde o início do programa, já foram seis satélites de monitoramento:

CBERS-1

  • Lançado em 14 outubro de 1999;
  • Desativado em 2002;
  • Custo de US$ 56 milhões

CBERS-2

  • Lançado em 21 outubro de 2003;
  • Desativado em 2009
  • Custo de US$ 56,6 milhões

CBERS-2B

  • Lançado em 19 de setembro de 2007;
  • Desativado em 2010;
  • Custo de R$ 284,4 milhões.

CBERS-3

  • Lançado em 9 de dezembro de 2013;
  • Não entrou em órbita por problemas na decolagem;
  • Custo de US$ 113,5 milhões

CBERS-4

  • Lançado em 7 dezembro de 2014;
  • Em operação;
  • Custo de R$ 160 milhões

CBERS-4A

  • Lançado em 20 de dezembro de 2019;
  • Em operação;
  • Custo de US$ 113,5 milhões

Qual a função deles?

Foi com os satélites do CBERS que o Brasil passou a monitorar seu imenso território de maneira remota, coletando imagens para:

  • Controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal;
  • Monitoramento de recursos hídricos e de áreas agrícolas;
  • Acompanhamento de mudanças no solo;
  • Coleta de imagens sobre crescimento urbano e ocupação do solo.

Parcerias diminuem custos, diz AEB

Segundo Carlos Moura, da AEB, as parcerias do Brasil com outros países replicam práticas adotadas por outras nações para driblar os altos custos no segmento espacial.

Além do acordo com a China, outro exemplo de cooperação é com os Estados Unidos, que gerou o lançamento do satélite Sport, em 2022. Ele foi construído pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em parceria com a NASA, com instrumentos científicos providos pelas universidades estaduais de Utah, do Texas e do Alabama.

Ele é usado atualmente para captar dados que alimentam o Embrace (Programa de Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial), do Inpe.

Conseguimos fazer mais com menos recursos. Com as parcerias, a gente também divide os riscos e isso é importante

Carlos Moura, presidente da AEB

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