Presidente do BB entrega pedido de renúncia a Guedes e Bolsonaro

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou nesta sexta-feira (24) pedido de renúncia ao cargo. A decisão foi comunicada em fato relevante apresentado ao mercado.

O aviso a investidores afirma que o pedido foi entregue ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A saída do posto será efetivada a partir de agosto, “em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado”.

De acordo com o fato relevante, a decisão foi tomada “entendendo que a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”.

Segundo a nota, sendo aceita a renúncia, a indicação do novo dirigente seguirá o estatuto social do banco, que estabelece que o presidente da instituição é nomeado pelo presidente da República.​

Auxiliares de Guedes afirmam que Novaes, que tem 74 anos, demonstrava cansaço e teria feito o pedido para ficar perto da família no Rio de Janeiro.

Muito próximo a Novaes, o ministro da Economia ficou sabendo da decisão há cerca de um mês. Guedes havia comentado recentemente que Novaes estava “cansado”, mas assessores não esperavam que a saída se concretizasse tão rápido.

Interlocutores de Guedes afirmam que o executivo pediu para sair como um presente de aniversário com a justificativa de que desejava voltar para casa.

A interlocutores Novaes também havia manifestado contrariedade com a recente decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que colocou proibições sobre parte da publicidade do banco, sob a justificativa que a verba estava irrigando um site que propaga fake news.

Na ocasião, o TCU havia determinado em 27 de maio deste ano a suspensão de contratos de anúncio publicitário do Banco do Brasil com sites, blogs, portais e redes sociais. A decisão do ministro Bruno Dantas partiu de análise feita de repasses de verba do banco para sites acusados de publicar fake news.

Após pressão nas redes sociais, o BB anunciou que não anunciaria mais em sites do tipo. Na sequência, após pressão do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, recuou e restabeleceu a publicidade em página acusada de disseminar conteúdo falso.

Agora, pelos planos de Guedes, Novaes deve seguir com ligação ao governo, não mais no Banco do Brasil. Provavelmente ele ocupará função de assessor especial do Ministério da Economia. Novaes desempanharia a função no Rio de Janeiro.

O anúncio da saída de Novaes do comando do BB foi recebido com surpresa por técnicos da área econômica. Ministros do entorno de Bolsonaro afirmaram, reservadamente, que não haviam tomado conhecimento de que o pedido de demissão aconteceria.

Em reunião fechada no Palácio do Planalto no dia 22 de abril, que veio a público após decisão judicial, Guedes dedicou parte de sua fala para fazer declarações duras em relação ao Banco do Brasil, defendendo sua privatização.

“É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDES e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, afirmou Guedes.

O assunto sobre a privatização do banco ocorreu ao fim da reunião. Bolsonaro questionou Novaes, presidente da instituição, se ele não teria nada para falar.

Guedes tomou a palavra e aproveitou para defender a privatização do BB.

“O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado nem público. Então, se for apertar o Rubem, coitado. Ele é superliberal, mas se apertar ele e falar ‘bota o juro baixo’, ele: ‘Não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam'”, disse o ministro.

“Aí se falar assim: ‘Bota o juro alto’. Ele: ‘Não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, defendeu o ministro.

Ao longo da conversa, Novaes falou sobre a importância da instituição na agriculta, mas depois foi estimulado pelo chefe da equipe econômica a defender a privatização do banco. Guedes pediu que o presidente do BB “confesse seu sonho” sobre o tema.

Bolsonaro, reticente à agenda privatista, interrompeu e disse, na ocasião: “Faz assim: só em 2023 cê confessa, agora não”.

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