Tailandeses pressionam governo com maior protesto desde golpe militar de 2014

Mais de 10 mil manifestantes pedindo a “queda da ditadura” e afirmando que “o país pertence ao povo” realizaram o maior protesto antigoverno na Tailândia desde que um golpe de Estado ampliou os poderes dos militares na nação do sudeste asiático, em 2014.

Os atos na capital, Bancoc, pedem a saída do primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha. O premiê é ex-comandante do Exército tailandês e liderou um golpe em 2014 que instalou um regime militar por cinco anos. Com novas eleições muito contestadas, em 2019, o premiê manteve o cargo, apoiado pelas Forças Armadas.

Em fevereiro deste ano, uma decisão judicial baniu um partido de oposição e garantiu maioria confortável para o premiê no Parlamento. Desde então, estudantes têm liderado protestos que ocorrem quase diariamente. Os deste domingo, entretanto, atraíram um número muito maior do que o usual.

A porta-voz do governo, Traisulee Traisoranakul, afirmou que o primeiro-ministro orientou seu gabinete a tomar medidas para “construir um entendimento entre as gerações”. No início do mês, Chan-ocha prometeu que o Parlamento consideraria as demandas dos manifestantes e afirmou que todos resolverão “os problemas juntos”.

Além da queda do primeiro-ministro, os protestos exigem uma nova Constituição, o fim da repressão aos ativistas opositores e reformas na monarquia —um tema tabu no país que mantém a lei de lesa majestade, que prevê prisões de 3 a 15 anos para quem difamar, insultar ou ameaçar a instituição monárquica.

No início de agosto, manifestantes em menor número já haviam realizado um ato inédito contra a monarquia, comparando o rei Maha Vajiralongkorn —ou Rama 10º— a Lorde Voldemort, o vilão da saga “Harry Potter” que não deve ser nomeado.

Em outras ocasiões, o primeiro-ministro já alertou para que os atos não insultassem a monarquia. No entanto, segundo ele, o rei pediu que a população não fosse mais processada por meio da lei, que remonta ao início do século 20.

“Queremos novas eleições e um novo parlamento para o povo”, disse o estudante e ativista Patsalawalee Tanakitwiboonpon, 24, dirigindo-se à multidão. “Nosso sonho é ter uma monarquia que esteja, de fato, sob a Constituição.”.

Em resposta, os manifestantes gritavam “Abaixo o feudalismo, vida longa ao povo”.

O Palácio Real não se pronunciou sobre os protestos deste domingo.

Os estudantes apresentaram dez reformas para a monarquia personificada na figura do rei, incluindo a redução de seus poderes sobre a Constituição, sobre a fortuna real e sobre as forças armadas.

Em 2016, após a morte de seu pai, Bhumibol Adulyadej —que reinou o país durante 70 anos—, Rama 10º ascendeu ao trono e requisitou uma revisão da nova Constituição para conquistar mais poderes emergenciais.

Desde então, assumiu controle pessoal sobre algumas unidades militares e ativos do palácio que chegam a dezenas de bilhões de dólares.

“Não ligo se eles protestam contra o governo, mas eles não podem tocar na monarquia”, afirma Sumet Trakulwoonnoo, um líder do grupo monarquista Centro de Coordenação dos Estudantes Vocacionais para a Proteção das Instituições Nacionais.

Na Tailândia, o rei é descrito na Constituição como “entronado em uma posição de adoração reverencial”. Tradicionalistas monárquicos tailandeses veem a monarquia como uma instituição sagrada.

A monarquia tem raízes profundas no país, onde os reis mantiveram poder absoluto por séculos, antes de uma revolução em 1932. Até a chegada de Rama 10º ao trono, críticas ao rei eram muito raras.

Críticos acusam a monarquia de ajudar a estender o papel das Forças Armadas na política tailandesa, onde 13 golpes militares foram realizados com sucesso desde que a monarquia deixou de ter poder absoluto no país.

Antes do golpe em 2014, a Tailândia viveu mais de uma década de confrontos violentos entre manifestantes monarquistas de camisas amarelas e seus rivais vermelhos, leais ao ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra.

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